Texto de Cornelio a Lapide:
Nesse tempo se levantará Miguel, o grande príncipe, protetor dos filhos do teu povo. Será um tempo de tal angústia, qual não houve desde que os povos começaram a existir até então. Nesse tempo o teu povo será salvo; (sê-lo-á) todo aquele que estiver inscrito no livro (da vida). (Dn. XII, 1).
“Porém neste tempo”, – o tempo do Anticristo, do qual pouco antes me ocupei, – “se levantará Miguel” – isto é, Miguel se levantará para lutar contra o rei do Aquilão, ou seja, contra o Anticristo, para proteger contra ele e contra Lúcifer, os fiéis e os santos em tantas perseguições. Vide sobre este combate de Miguel e o dragão, no Apocalipse.
“Acendeu-se uma guerra no céu; vindo Miguel e os seus anjos para guerrearem com o dragão, entrou em guerra também o dragão e os seus anjos. Mas estes não prevaleceram e não mais tiveram lugar no céu. O grande dragão, a serpente antiga, aquele que é chamado diabo e satanás, o sedutor de todo o orbe habitado, foi precipitado sobre a terra e, juntamente com ele, foram precipitados os seus anjos.
“E ouvi uma grande voz, no céu, que dizia: “Agora consumou-se a obra salvadora, o poder, o reino do nosso Deus e a autoridade do seu Cristo, porque foi precipitado o acusador dos nossos irmãos, aquele que os acusava na presença de nosso Deus dia e noite. E eles o venceram graças ao sangue do Cordeiro e graças ao testemunho que deram: eles desamaram a própria vida até padecerem a morte. Por isso, alegrai-vos, ó céus, e vós que os habitais. Mas ai de vós, ó terra e mar, porque o diabo caiu sobre vós com grande furor, sabendo que lhe resta pouco tempo”. (Apoc. 12, 7-12).
Donde São Tomás e outros ensinarem que nessa batalha o Anticristo será morto por Miguel. Pois assim explica aquela passagem da II Epístola aos Tessalonicenses 11, 8: “O qual (Anticristo) o Senhor Jesus matará com o sopro de Sua boca”, i.e., por Sua ordem. Porque, diz, Miguel o matará no Monte das Oliveiras, onde Cristo subiu ao Céu.”
Portanto, Cristo confiará a execução de Sua sentença conta o Anticristo a Miguel, o qual é o supremo juiz depois de Cristo, e defensor da justiça divina. (…)
Pantaleão, diácono e “chartophylax” da Igreja-mor, esclarece a muitos essa passagem, em suas homilias sobre São Miguel:
Refere-se a Miguel aquele Salmo XXXIV, 8: “O Anjo do Senhor assentará sua guarda em volta dos que o temem, e os libertará. “Assentará” a guarda, pois em hebraico é “chone”, i.e., assentará o acampamento, e como traduziu São Jerônimo, “circundará em círculo”, para que Miguel se oponha ao demônio, do qual também se diz que circunda em volta como um leão rugindo. Dessa forma quer significar o Salmista que Miguel instruirá os anjos em estilo de acampamento e organizará a defesa dos fiéis. (…) Pois que também os demônios se organizam em acampamentos e em ordem de batalha contra os homens, prova Tertuliano comentando o evangelho de Lucas no qual o demônio, perguntado por Cristo qual era o seu nome, respondeu: “Legião”.
Miguel foi quem comandou a expulsão de Adão do paraíso, e ensinou-lhe a cultivar a terra com a enxada, a semear, e a fazer a colheita de toda a plantação.
Miguel foi quem conteve a espada de Abraão, para que não matasse o filho, e nele abençoou a todos os povos, Gen. XXII.
Miguel apareceu ao legislador Moisés, quando apascentava as ovelhas, no meio de um arbusto ardente.
Miguel foi quem apareceu a Balaão na estrada:
Miguel, em lugar de Deus, outorgou a Lei aos hebreus no Sinai, Êxodo XX.
Miguel apareceu a Josué com a espada desembainhada, quando este dirigiu o exército contra os inimigos, e animou-o para o combate:
Miguel é “o general das hostes angélicas”, diz São Basílio na homilia De Angelis. Assim, o que Marte foi para os gentios, general e chefe das guerras, São Miguel o é para os cristãos. Por isso, São Miguel é chamado pelos gregos Archistrátegus, isto é, Generalíssimo.
Miguel apareceu a Gedeão e foi cultuado por ele. O mesmo ajudou-o a que, com trezentos soldados, desbaratasse 135 mil madianitas (conf. Juízes 11 a 14)
Miguel foi quem matou 185 mil assírios no acampamento de Senaquerib, numa só noite, I Reis cap. XIX, 32 a 37:
Miguel desceu à fornalha com Azarias e seus companheiros fazendo cair o orvalho, preservando-os das chamas.
Miguel preservou Daniel no lago dos leões.
Miguel tomou Habacuque por um anel de cabelos da cabeça e levou subitamente da Judéia à Babilônia, para que alimentasse a Daniel:
Miguel foi quem movia as águas da piscina probática e santificava-as como símbolo do batismo.
Novamente, São Miguel apareceu e Constantino Magno, indicando naquele momento que ele conduzisse os argonautas para o tosão de ouro: “Eu sou Miguel, generalíssimo dos exércitos do Senhor, defensor dos fiéis cristãos
Miguel tocará no final a tuba, e com ela despertará os mortos para que venham para o Juízo.