Qual é o problema com Davos, afinal?
Eu era um estudante de engenharia em Porto Alegre em 2001, quando a cidade recebeu o primeiro Fórum Social Mundial, um encontro de organizações de extrema-esquerda, para promover a agenda socialista.
Declaradamente, o evento tinha como objetivo fazer um contra-ponto ao Fórum Econômico Mundial, que seria o maior representante do “neoliberalismo”, o bicho-papão dos esquerdistas, à época.
Lembro de ter achado graça de ver militantes do MST, gritando “Fora FHC, Fora FMI”, segurando uma faixa com os dizeres “fora ianques”, na fila para comprar um McDonald’s.
À época, eu não fazia ideia que o paradoxo era muito mais profundo do que o representado por militantes de extrema-esquerda ajudando a engordar o caixa de uma multinacional americana.
Na verdade, boa parte das ONGs que participavam do primeiro Fórum Social Mundial já era bancada por fundações bilionárias para promover a agenda socialista, entre elas a Fundação Ford, a Fundação Rockefeller e a Open Society, de George Soros.
Soros, por sua vez, sempre foi um grande entusiasta do Fórum Econômico Mundial, participando dos seus encontros há muito tempo. Numa entrevista de 99 para a Forbes, Klaus Schwab, fundador do Fórum, se gabava de ter influenciado Soros a adotar as ideias de que guiariam a sua atuação política.
Passados mais de 20 anos, quase ninguém fala mais em Fórum Social Mundial, enquanto o Fórum Econômico Mundial é talvez o mais influente evento político do planeta, deixando cada vez mais evidente a sua agenda extremista de esquerda.
O discurso do presidente argentino foi direto ao ponto, num recado aos CEOs, acadêmicos, autoridades públicas, jornalistas e outros integrantes da elite global, reunida em Davos: “o Ocidente está em perigo porque aqueles que deveriam defender os seus valores estão capturados por uma visão de mundo que leva inexoravelmente ao socialismo, e à pobreza”.
Milei só não deixou tão claro no discurso quem seriam as vítimas do empobrecimento: o grosso da população. Com certeza não seriam os integrantes do Fórum Econômico Mundial, a cada ano mais ricos e poderosos.
Estudando mais a fundo os escritos de Klaus Schwab, fica evidente que ele nunca foi um defensor do capitalismo e do livre mercado. O que ele defende é basicamente um modelo político fascista: a união entre governos e corporações para implementação de agendas ideológicas. É um arranjo profundamente antidemocrático.
Pegue, por exemplo, a principal agenda do Fórum nos últimos anos: a transição para uma “economia verde”. Sem entrar no mérito sobre qual é a verdadeira ameaça oferecida pelo “aquecimento global”, ou a eficácia das medidas propostas para combatê-lo, quem deve decidir sobre a implementação de tal medida?
A mudança na matriz energética do mundo tem implicações gigantescas, especialmente na vida dos mais pobres, já que o aumento do custo da energia afeta desproporcionalmente essa população. O povo não deveria ter o direito de votar sobre isso? De pelo menos ouvir críticas ao plano, tratadas como “fake news” e prontamente censuradas? Ou deve ser tudo definido por ricaços, que emitem mais carbono numa viagem de jatinho até Davos do que o ser humano médio produz durante toda a sua vida, enquanto querem proibir o povão até mesmo de comer um bife?
O jogo da elite globalista é evidente: concentrar poder político e econômico, solapando as soberanias nacionais e a próprio democracia, em benefício próprio. Lord Acton nos alertava que “o poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente”. Ele também falava que “o perigo não é que uma determinada classe seja incapaz de governar: toda classe é imprópria para governar.”
Eis o problema com Davos.