O risco de explosão por não resolver as grandes questões nacionais – Artigo semanal de Alexandre Garcia

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Alexandre Garcia

Alexandre Garcia, nascido em 1940, é um dos jornalistas mais renomados do país, com passagens por diversos veículos de comunicação. Produz conteúdos para o Portal O TEMPO, jornal O TEMPO, YouTube e demais redes sociais de O TEMPO.

 

 

 



Mais risco Brasil

Entre tentativas de aproximação diplomática e sanções polêmicas, Lula se prepara para diálogo com Trump

Donald Trump disse que encontrou brevemente o presidente Lula na Assembleia Geral da ONU entre os discursos dos dois líderes de Estado

 

Lula e Trump vão conversar em uma semana. O americano pronunciou na ONU um discurso sereno, mesmo depois da fala provocativa de Lula na tribuna. Encontraram-se brevemente. “Ele parece uma cara legal. Gosta de mim e eu gostei dele” – comentou depois o republicano. Não é a primeira vez que um presidente republicano gosta da aproximação com Lula. Quando Lula foi à Casa Branca antes de tomar posse em seu primeiro mandato, George W. Bush confiou a Lula uma missão: que ele cuidasse da Venezuela, mas não se intrometesse na derrubada de Saddam Hussein. Lula deve ter se surpreendido com a abordagem de Trump, ontem, e agora terá uns dias para acertar com Celso Amorim o tom da conversa. Moraes não foi mencionado.

A holding familiar de Moraes recebeu também a sanção da Magnitsky. O instituto chamado de “Lex”. Trocadilho com “lei” em latim e com o apelido de “Alexandre”. E “Lex” faz lembrar o Lex Luthor – ou Alexander Luthor –, o vilão de uma série do Super-Homem, fisionomicamente semelhante a Moraes. Na ampliação recente da Magnitsky, teria a família de Moraes que ser punida por causa do chefe, como a família de Oswaldo Eustáquio foi? A letra fria da lei diz que são atingidos todos os que se relacionam com o sancionado, pois poderiam ser usados como alternativa financeira. O secretário do Tesouro, que aplica a lei, ao ser perguntado pela Reuters por que sancionar a advogada Viviane, que toca o escritório do casal, respondeu que “onde há um Clyde há uma Bonnie”. Referia-se à dupla de assaltantes de bancos dos anos 1930 Bonnie e Clyde, que foram retratados num filme por Warren Beatty e Faye Dunaway.

No mesmo dia, mais autorizações para entrar nos Estados Unidos foram canceladas. Do advogado-geral da União, que ficou conhecido como “Bessias”, e do ministro do Superior Tribunal de Justiça Benedito Gonçalves, que ficou conhecido pelo cochicho no ouvido de Moraes “Missão dada, missão cumprida”, do tempo em que também era ministro do Tribunal Superior Eleitoral. O desembargador Airton Vieira, que ficou famoso por exigir criatividade de Eduardo Tagliaferro para sancionar a Oeste, também perdeu o visto americano, entre outros. Tudo isso na véspera do discurso de Lula, como manda a rotina anual da abertura da Assembleia da ONU.

Lula já estava nos Estados Unidos quando a ampliação das sanções foi anunciada. Recusava-se a falar com Trump, mas agora ou conversa, ou deixa clara sua posição. Vai falar sobre as condições da retirada das tarifas de importação de produtos brasileiros? Do distanciamento do Ocidente? Descondenado pelo Supremo, não ousa defender a Constituição, como jurou; vai defender Moraes perante Trump? Enquanto isso, na Câmara, o presidente Hugo Motta diz que é preciso tirar as “pautas tóxicas”, que seriam as grandes questões que mobilizam o país, como anistia e militância do Supremo, assim como a timidez do Poder mais poderoso, o Legislativo. Motta empurra o que está em ebulição para debaixo do tapete. Sem a válvula do debate, a pressão aumentará e pode explodir a panela de pressão. É o risco de um 8 de janeiro turbinado.

 


Fonte: https://www.otempo.com.br/opiniao/alexandre-garcia/2025/9/24/mais-risco-brasil


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