Assisti à longa entrevista de Putin a Tucker Carlson. Muita gente condenou Carlson por “dar palco” a Putin, alguns chegaram ao ponto de pedir sua prisão, o que apenas demonstra o nível de arbitrariedade alcançado no Ocidente.
Carlson tem sido um crítico da intervenção americana na guerra, o que lhe rendeu acusações de ser um agente russo. No entanto, isso não parece ser o caso. O isolacionismo é um movimento antigo nos EUA, que remonta à Primeira Guerra Mundial.
Além disso, Carlson tem denunciado o sequestro das instituições americanas por uma elite globalista inescrupulosa, que muitas vezes cria e alimenta conflitos contrários aos interesses da América. Esse fenômeno não é novo; o presidente Eisenhower alertou sobre o complexo industrial-militar em seu discurso de despedida, ainda em 1961.
Voltando à entrevista, Putin se apresentou como um homem razoável. Com uma fala pausada, ele passou meia hora explicando a ligação umbilical entre a Rússia e a Ucrânia ao longo de mil anos de história.
Obviamente, ele mentiu e omitiu fatos históricos para tentar apresentar a Rússia como a heroína da história. Por exemplo, ele apresentou a Polônia como responsável pelo início da Segunda Guerra Mundial, ao não ter cedido às exigências de Hitler, dando a entender que tais exigências eram razoáveis. Na mesma passagem, ele “esqueceu” de mencionar a colaboração do regime soviético da época com os nazistas para invadir a Polônia, dividindo o país entre eles…
Ele explicou melhor o que seria a “desnazificação” da Ucrânia, uma das desculpas dadas para a invasão. Segundo ele, a Ucrânia cultua líderes políticos que fizeram aliança com os nazistas e lutaram contra os russos. Novamente, ele “esqueceu” de mencionar que muitos ucranianos trataram os nazistas como libertadores do país após Stálin promover a fome em massa, matando seis milhões de ucranianos. Ou seja, a maior parte desses líderes ucranianos nunca foram nazistas ideológicos, mas enxergaram no regime alemão uma forma de lutar contra a tirania stalinista. Além do mais, é ridículo acusar um país que elegeu um presidente judeu de “nazista”.
O outro motivo dado por Putin para iniciar o que ele chama de “operação militar especial” foi a expansão da OTAN e a mudança de poder na Ucrânia ocorrida em 2014, após os protestos violentos que resultaram na queda de Viktor Yanukovych, um aliado de Moscou.
Putin afirma que o golpe que derrubou Yanukovych foi preparado pela CIA, no que ele chamou de um “erro catastrófico”, pois a oposição poderia ter chegado ao poder sem a necessidade de um golpe.
O ditador russo ainda deu como motivo para a invasão o desrespeito ao acordo de Minsk, que garantia certa autonomia às províncias ucranianas povoadas por maioria russa, que buscavam independência.
Putin disse que a guerra poderia ter acabado há 18 meses, pois os ucranianos teriam aceitado as condições para um acordo de paz, mas foram convencidos no último minuto pelo então primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.
Ao final, ele diz que invariavelmente haverá um acordo, porque é impossível vencer a Rússia no campo de batalha e a Ucrânia não consegue sobreviver da maneira que está por muito mais tempo.
Outro ponto interessante da conversa é que ele teria sugerido a vários presidentes americanos a entrada da própria Rússia na OTAN e a colaboração conjunta para um escudo de mísseis contra o Irã, o que foi rechaçado.
Como um homem da KGB e ditador há décadas, é impossível acreditar nas suas “boas intenções”. Putin se enxerga como uma espécie de Czar, com a missão divina de reconstruir o Império Russo, além de operar por outros motivos mais urgentes, como garantir o apoio interno através de uma guerra, um velho truque de ditadores.
Mas é fato que a elite globalista, no controle dos EUA e da Europa, também não parece interessada na paz e no bem-estar do povo ucraniano, que basicamente está sendo utilizado como bucha de canhão contra a Rússia e, por tabela, contra a China.
Tudo indica que haverá um acordo de paz e que as regiões ao leste da Ucrânia serão absorvidas como repúblicas satélites da Rússia, depois de dezenas de bilhões de dólares gastos e centenas de milhares de mortos.
Mas o que está muito longe de acabar é a guerra entre o Ocidente e o eixo Rússia-China. Antes de vencer esse conflito politicamente, ou mesmo militarmente, se é que a humanidade sobreviva a um conflito militar desses, o Ocidente deveria recuperar sua superioridade moral, através da defesa de seus valores tradicionais, ao invés de fomentar um regime tão autoritário quanto o russo ou o chinês