As blindagens mostram algo muito importante escondido – Artigo semanal de Alexandre Garcia

Compartilhar

Alexandre Garcia: Blindando quem?

A CPMI do INSS virou notícia pelo acirramento de ânimos, um ambiente nada favorável à apuração de fatos. O objetivo dos governistas parece ser esse e tem a colaboração ingênua dos mais esquentados da oposição

Ex-presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, na CPMI do INSS – (crédito: Jefferson Rudy/Agência Senado)


A semana começou com o oitavo habeas corpus para nada informar à CPI mista que investiga o mais cruel dos roubos na história do Brasil. Na segunda-feira, o ex-presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, chegou acompanhado de um habeas do Supremo Tribunal Federal e de seu advogado. Antes dele, sete outros depoentes entraram na comissão acolitados por habeas corpus. Nem sequer a data da entrada no serviço público respondeu. A lei lhe garante o direito de não fazer prova contra si próprio, mas um ex-presidente de uma instituição mostrar nenhum interesse em aproveitar a oportunidade de denunciar o mal que fizeram à Previdência é muito estranho. A sessão virou notícia, mais uma vez, pelo acirramento de ânimos, um ambiente nada favorável à apuração de fatos. O objetivo dos governistas parece ser esse e tem a colaboração ingênua dos mais esquentados da oposição. Quem são os protegidos pela blindagem?

Deputados e senadores, representantes do povo e dos estados, tratam de investigar o roubo que subtraiu das aposentadorias e pensões de 2,3 milhões de idosos, cerca de R$ 6,3 bilhões. Aproveitaram-se das deficiências geradas pela idade das vítimas e tiraram um pouco de cada um, a cada mês, com conivência ou cumplicidade da máquina pública, que deveria fiscalizar e controlar algo tão precioso como o sustento mínimo de gente que foi obrigada a recolher a vida toda uma contribuição que lhes diminuía o salário. Continuaram tirando, também sem autorização da vítima. Um crime gigantesco, perverso, desalmado, praticado com maldade e esperteza covarde contra velhinhos.

Por que foi tão difícil criar a CPMI? Por que o governo tentou evitá-la? Por que o ministro Dias Toffoli, em 17 de junho, se reconheceu relator do caso e pediu todos os inquéritos da Polícia Federal (PF) para si? Por que a Procuradoria-Geral da República (PGR) teve que agir sobre relatoria? Por sorte, o inquérito foi para a relatoria do ministro André Mendonça. Por que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), pôs sigilo nos registros de visitas de investigados à Casa? Por que a mídia está tão discreta diante de tamanho e pérfido escândalo contra os avós de tanta gente? Por que tanto habeas corpus para ficar calado? Medo de depor? Medo de quê? Tudo isso mostra o tamanho, a importância e a gravidade do que está sendo ocultado.

Entre os investigados e suspeitos, o “Careca do INSS”, o advogado Nelson Wilians e seu fiel escudeiro, o economista Fernando dos Santos Andrade Cavalcanti, o empresário Maurício Camisotti, presidentes de associações de “benefícios” para os idosos, inclusive um vice que é irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Entre esses, a maioria com dezenas de milhões de reais transacionados, segundo relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), mais coleções de carros de luxo e esportivos, imóveis, empresas de fachada e offshore. Tudo retirado dos minguados benefícios de gente idosa.

Obviamente, tudo isso passou pelo Dataprev e pelo INSS. E durante muito tempo. A falcatrua depende de um esquema gigantesco. Só conhecemos a espuma. Querem fechar a sete chaves a caixa-preta. Mas o crime contra os velhinhos exige punição. Na Flórida, o vigarista que aplicou um golpe em entidades previdenciárias, pegou mais de 800 anos de prisão. Aqui, irão os governistas conseguir emudecer a CPMI? O silêncio dos depoentes é tão eloquente quanto o barulho dos milhões registrados pelo Coaf.


Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2025/10/7270651-alexandre-garcia-blindando-quem.html